"Nunca ouvi falar nessa história de produtor fazendo churrasco das ovelhas do governo. Esse negócio de churrasco é intriga, é mentira", diz o produtor rural Raimundo Nonato Nogueira, do Ramal da Linha 10, Km 22, da Estrada de Porto Acre (AC-10), enquanto olha as mais de 60 ovelhas em que se transformaram o lote de 12 ovelhas e um carneiro reprodutor que recebeu da Secretaria de Produção Agropecuária (Seap) do Acre.
A muitos quilômetros da propriedade de Raimundo Nogueira, mais precisamente no Km 5, da Estrada do Quixadá, também em Rio Branco, o produtor rural Sebastião Benefício, outro que cria ovelhas repassadas pela Seap também teve a mesma surpresa quando foi informado que as ovelhas do governo teriam virado churrasco por todo o Acre.
"Por aqui, não morreu nenhuma ovelha que recebemos do governo. Muito pelo contrário, elas se multiplicaram e estão me ajudando a ampliar a renda que tenho do peixe, da verdura, do gado e da galinha", assinala Sebastião, que junto com mais dois irmãos vizinhos, também receptores de lotes de ovelhas, já possuem um rebanho de mais de 200 cabeças.
Assim como Raimundo, Sebastião rebate, "na hora", que a história do churrasco de ovelhas do governo, que foi propagada em matéria publicada pela revista Veja desta semana, "não é verdade". "Por aqui, as mais de 200 ovelhas minhas e dos meus irmãos só têm aumentado a nossa renda", diz Sebastião Benício.
Os esclarecimentos dos dois produtores rurais acreanos não batem em nada com as informações contidas na matéria da revista Veja, que afirmou que mais da metade das "oito mil" ovelhas compradas pelo governo Tião Viana por "R$ 2 milhões" morreram no caminho da Bahia até ao Acre ou viraram churrasco nas propriedades dos produtores acreanos.
Além de ser desmentida pelo sucesso da criação da grande maioria dos 397 produtores de 16 municípios do estado que receberam as ovelhas do governo, a partir de março de 2011, a matéria de Veja é toda desmentida pelos números apresentados pelo secretário Lourival Marques, da Seap. Segundo Marques, em vez de oito mil, foram adquiridas por licitações, até setembro do ano passado, 5.080 ovelhas ao custo de R$ 1.540.900,00. O Pregão Eletrônico para Registro de Preço, de número 172/2010, da Seap, estabelecia um limite de compra de até oito mil ovelhas no valor máximo de R$ 2,5 milhões.
Ao contrário do que falou Veja, a Seap também tomou todos os cuidados necessários para que as ovelhas sentissem o menor impacto possível da mudança do clima seco do Nordeste para o clima úmido da Amazônia, o que exigiu a implantação de alguns apriscos para garantir a adaptação climática dos animais.
A Seap fez a seleção dos produtores e forneceu a todos eles informações técnicas (contidas, inclusive, em cartilhas) de como fazer um manejo de sucesso de ovelhas e carneiros, que incluem, entre outras necessidades, aplicações periódicas de vacinas e vermífogos. Isso permitiu que a Controladoria Geral do Estado, em fiscalização feita em março deste ano em Capixaba, constatasse o sucesso da criação em 94% das propriedades daquele município que receberam os animais.
Outra afirmação mentirosa dada pela matéria da revista Veja, de que a falência do programa de ovinocultura contribuiu para aumentar o número de dependentes do estado no programa Bolsa Família, foi contestada pela Secretaria de Desenvolvimento Social. Segundo o órgão, o aumento dos dependentes do Bolsa Família no estado se deveu principalmente a adesão de 12.200 famílias pobres atingidas pelas enchentes dos rios acreanos, cuja inclusão foi pedida pelo governador Tião Viana e atendida pelo Ministério do Desenvolvimento Social. Veja usou a informação para tentar desqualificar ainda mais o sucesso do programa de criação de ovelhas.
O secretário de Articulação Institucional do governo, José Fernandes do Rêgo, também informou que, ao contrário do que afirmou Veja sobre a situação da pobreza do Acre, 11,8 mil (44%) das 27 mil famílias em extrema pobreza no estado já estão saindo dessa situação social com as políticas públicas de geração de emprego e renda do governo.
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