O Ministério Público do Rio Grande do Sul iniciou nesta quarta-feira, durante a segunda etapa da Operação Leite Compen$ado, uma investigação para saber se as indústrias de leite do estado beneficiaram o produto de transportadores suspeitos de adulterarem a matéria-prima com água e ureia. Dois transportadores de leite e um motorista foram presos pela manhã acusados de adulteração de alimentos e formação de quadrilha. O vereador Larri Lauri Jappe, de Horizontina, foi preso na noite de terça-feira porque havia risco de fuga. Escutas flagradas pelo MP mostraram que o parlamentar sabia que estava sendo investigado e afirmava a interlocutores que, se o cerco apertasse, “atravessava a ponte” – em referência à proximidade com a fronteira da Argentina.
Segundo o promotor Mauro Rockenbach, responsável pelas investigações sobre a adulteração de leite no Rio Grande do Sul, o Ministério da Agricultura comunicou às indústrias no dia 18 de fevereiro que seis empresas estavam com restrição devido à suspeita de fraude. O leite entregue por essas distribuidoras não poderia ser direcionado para a produção de UHT e deveria ser usado apenas para a fabricação de derivados.
— A resposta se o leite comprado desses distribuidores depois do comunicado foi usado ou não para a produção de UHT deve ser dada pelas indústrias. Vamos chamar as empresas para investigar o destino desse produto — disse o promotor.
As empresas sob restrição pelo Ministério da Agricultura eram a Marasca, com sede em Selbach, a Cooperativa Agrícola Mista São Roque, de Salvador do Sul, a LTV Transporte, de Guaporé, a Malmann Comércio de Laticínios, de Sede Nova, o Posto Regional de Recebimento de Leite Hubner, de Tapera, e a Cooperativa Agropecuária de Petrópolis, com sede em Vila Flores. Todas as empresas são do Rio Grande do Sul.
Rockenbach anunciou a investigação sobre as indústrias durante mais uma ação de busca e apreensão da Operação Leite Compen$ado, realizada na cidade de Rondinha – a 340 quilômetros de Porto Alegre. O promotor, apesar da investigação, disse que não tem indicativos de que a indústria participasse da fraude ou de que lucrasse com o esquema.
O veterinário Daniel Riet Villanova, que havia sido detido na primeira etapa da operação, em 8 de maio, também teve novo mandado de prisão preventiva expedida pela Justiça.
Os dois empresários presos são os irmãos Antenor Pedro Signor e Adelar Roque Signor. O motorista deles, Odirlei Fogalli, também fazia parte da quadrilha de fraudadores, segundo o MP. Na propriedade dos irmãos, o MP encontrou notas fiscais de compra de 50 quilos de ureia e um poço artesiano de onde poderia estar sendo captada água para fraudar o leite. Quatro caminhões tanque também estavam na propriedade, um deles carregado com leite.
Segundo Rockenbach, o Ministério da Agricultura constatou 11 laudos com resultado positivo para ureia em 113,3 litros de leite movimentados pela AR Transportes entre março e maio. O leite era comercializado na central de resfriamento da Marasca, em Selbach – comandada pelo veterinário Daniel Villanova. Na cidade de Três de Maio, o promotor Alcindo Bastos Filho aprendeu ureia, sal grosso e o chamado “saguzinho”, a fórmula usada pelos fraudadores para enganar a fiscalização. O material foi encontrado na casa do transportador Paulo Rogério Schultz, que teve duas amostras positivas para ureia detectadas pelo Ministério da Agricultura. A Justiça negou o pedido de prisão preventiva do empresário solicitada pelo MP.
O empresário Adelar Signor negou as acusações do Ministério Público e disse que cuidava apenas da produção agrícola da empresa familiar. Segundo ele, seu irmão Antenor Signor é quem cuidava do transporte de leite.
— Meus Deus, não sei de nada disso. Se eu fraudasse leite estaria bem de vida, e não cheio de dívidas como agora. Sempre fui do bem — disse o transportador.
O transportador admitiu que conhecia o veterinário Daniel Villanova, apontado como chefe do esquema, mas que soube das fraudes apenas por reportagens de TV. Ele foi preso em casa, onde a polícia encontrou uma carabina 26mm sem registro. A empresa dos irmãos Signor existe desde 2004 e recolhia cerca de 20 mil litros diários de leite de 70 produtores em cinco municípios da região.
Com a operação desta quarta-feira, o MP já interceptou 440 mil litros de leite contaminado com formol que não chegaram à indústria. Todo o produto, segundo os promotores, era destinado à Confepar, cooperativa agrícola do Paraná que industrializava a matéria-prima. Na segunda fase da Operação leite Compen$ado não foi encontrada nenhuma marca de leite contaminada com formol.
Da Redação
com O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só serão publicado comentários, com identificação não perca seu precioso tempo de comentar sem se identificar!!