O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, escreveu um artigo com sua opinião pessoal em relação aos recentes manifestos populares ocorridos no Brasil. Ricardo destaca a necessidade de dar maior celeridade e resolutividade às estruturas e políticas públicas. Veja abaixo o que diz, na íntegra, o artigo do governador:
A voz das ruas
Nenhuma cena carrega mais e melhor os signos e sentimentos de democracia, de ânsia por mais igualdade e melhor qualidade de vida do que uma rua cheia das cores, dos corpos e da energia do seu povo. Em manifestações de alegria ou de insatisfação, seja um evento comemorativo ou combativo, o somatório das vozes, vontades e forças representa, quase sempre, a luta por melhores dias para todos.
Os protestos que tomaram as ruas do Brasil nos últimos dias, apesar da interferência negativa e do vandalismo de alguns poucos, têm essa característica e parecem recuperar, quiçá de forma definitiva, a força comunitária de um povo que ultimamente só a vinha utilizando para pontuais e efêmeros festejos. O exercício radical da democracia, essa coisa que precisamos aprender a viver constante e incansavelmente, estava adormecido. As manifestações que varrem o mundo revigoram esse exercício por expressarem um estado de insatisfação com as instituições e com a política, na forma em que está sendo exercidas.
O exemplo da Paraíba, expressado em ruas e praças das principais cidades, na histórica quinta-feira – 20 de junho de 2013, mostra maturidade, força, criatividade, bom humor e foco no que verdadeiramente interessa: mudança, mas com respeito as instituições; combate, mas através dos argumentos e ideias e com base na vontade da maioria.
Por aqui o vandalismo e a inconsequência não tiveram vez. Não houve espaço para os que querem utilizar a manifestação para promover depredações ao patrimônio publico e privado. Não houve e nem pode haver. Coube, também ao povo consciente, a missão de não permitir qualquer episódio que pudesse macular a força e a esperança desse movimento. Ganhamos todos porque a cidadania saiu fortalecida.
A democracia representativa, quando usurpada e transformada em apropriação de poder, perde suas características essenciais e passa a ser uma perigosa e destrutiva forma de tecer a história. As instituições têm que ser respeitadas, repito, pois só assim elas podem ser transformadas. A política é, necessariamente, uma arena em ebulição, um corpo vibrante cuja sobrevivência se sustenta na energia gerada pelo atrito e afago do toque das suas células. Em política, a inércia não é neutra, é negativa. Precisamos de movimentação e, finalmente, ela está nas ruas.
A hora é de aproveitar a luz que emana dos aglomerados populares e, principalmente, dos jovens corações. Eles apontam erros, descaminhos, incompetências e corrupção. Equívocos que, em maior ou menor grau, subtraem os nutrientes que deveriam dar vida, celeridade e resolutividade às estruturas e políticas públicas.
Este grito forte, intenso e carregado das mais legítimas aspirações, precisa ser absorvido e decifrado para que possa repercutir em acertos, correções de percurso ou, para quem precisa, mudanças radicais de postura e atitude política.
A diversidade da pauta dá uma característica muito particular e rica ao que está em curso. Não há uma luta contra alguém ou por algo em particular. Não há também pessoa ou instituição responsável. A pluralidade conceitual e formal pode sublimar ainda mais esta importante fração da nossa história. A utopia, esta meta tão essencial quanto intocável -alvíssaras- está sendo reintegrada ao nosso horizonte.
Ao mesmo tempo é necessário que estejamos atentos e preparados para combater e desmascarar os aproveitadores de plantão, estes que empunham qualquer bandeira que lhes encubra os escusos interesses, que são incapazes de pensar coletivamente e jamais exercitam a política em sua verdadeira acepção. Da mesma forma, necessário se faz rechaçar os excessos de qualquer natureza, pois quando o direito do outro é respeitado, é mais forte e íntegro o direito de cada um.
Precisamos também ter a clareza de que, de um lado, temos um corpo de líderes -presidenta da república, governadores, prefeitos e parlamentares- em grande parte forjados exatamente nas lutas populares; do outro lado e paradoxalmente, ouvimos o clamor por representatividade.
O povo exige que o aparato de poder, em seus diversos níveis de exercício, reflita, de forma efetiva, a vontade popular e o conjunto das suas necessidades. A negação pura e simples da democracia representativa, no entanto, não aponta saídas. Isto porque as intermediações internas na sociedade, através de fóruns entre as mais diversas instâncias de poder, são imprescindíveis.
A emergência de novas e antigas questões sociais exige de todos – gestores, instituições, movimentos sociais e população – muito mais coragem, força de trabalho, capacidade de diálogo, sinceridade de propósitos e espírito público. Por sermos, politicamente, fruto do confronto das ideias, estimulamos e exercitamos esta postura ao longo de toda a trajetória de homem público e em atividades como o Orçamento Democrático, demais fóruns e encontros possíveis.
Por estas e outras óbvias razões, estamos, a cada dia, mais convictos de que é preciso promover, aprender, ensinar e estimular a participação popular nos encaminhamentos e decisões. Só desta forma e em todos os níveis, teremos governos verdadeiramente fortes e legítimos como a vontade do povo que ocupa as ruas para construir um novo tempo.
Esperamos que essa onda de mobilizações no mundo e no Brasil renove o oxigênio das nossas instituições, para que venhamos a respirar o mais puro conceito de democracia e, além disso, possamos reinventar utopias, pois elas são essenciais para transformar a marcha da humanidade em uma caminhada permanentemente progressista.
Ricardo Coutinho
Governador da Paraíba
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