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terça-feira, 18 de junho de 2013

A influência do algodão na economia de Alagoa do Monteiro

Por Pedro Nunes

ImageAs atividades comerciais em Alagoa do Monteiro tiveram início, por volta de 1805, quando começaram a surgir as primeiras casas em torno da igrejinha construída em terras doadas à Nossa Senhora das Dores por Manoel Monteiro e sua esposa, Josefa Vieira de Jesus. O casal teve 7 filhos: Manoel Monteiro Junior, Manoel José, Catarina Ferreira Leite, Pedro, Francisco, Francisca e Isabel.

Na época, tudo era transportado em lombo de burro. Não havia estradas. Apenas caminhos e veredas por onde trilhavam almocreves, comprando e vendendo. Como dinheiro era coisa rara, trocavam mais que vendiam. Os primeiros negócios teriam pertencido aos fundadores da povoação que logo organizaram uma pequena feira. População bastante reduzida e atividades econômicas ainda incipientes, a pequena feira não chegava sequer ao meio dia.

Nas estradas e caminhos poeirentos, começavam a surgir almocreves, estalando as ponteiras dos reis para dar ritmo à burra-madrinha enfeitada com campa tinideira, caminhando à frente do comboio. Nas malas, traziam ferragens, louças, tecidos, miudezas, extratos, óleos coloridos, sabonetes, brilhantinas, farinha e rapadura para abastecer a região. Andavam pelos sítios mais distantes vendendo e trocando. Dinheiro escasso, época do vintém e do dobrão. 

Bem mais tarde, em 1888, no pequeno povoado transformado em vila, o comércio girava em torno dos negócios de dois comerciantes prósperos e abastados, os coronéis Manoel Joaquim Rafael e Francisco José Torres.

No dia 12 de junho de 1913, o patriarca Joaquim Lafayette inaugurou uma loja de tecidos finos, em instalações contíguas ao casarão que construíra para conforto de seus 15 filhos.
A partir da década de 30, a vida econômica do município atingiu sua fase áurea.
Impulsionado pela força do algodão, o comércio da vila não parava de crescer. Tinha de tudo.

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A VILLA NOVA, casa comercial pertencente a José Faustino Villa Nova, pai do jurista Lourival Villa Nova, situava-se na Rua Coronel Santa Cruz, números 28 e 30. Destacava-se por seu grande sortimento de ferragens, miudezas, calçados, chapéus, estivas e uma padaria muito bem montada.

A CASA CENTENÁRIA, de Gama & Irmãos, na Praça do Comércio, n.º 25, vendia de tudo: tecidos finos, chapéus, miudezas e enfeites para vestidos. Camas, colchões, enxadas, foices e machados misturavam-se no stock, palavra inglesa que soava bem aos ouvidos da matutada. Com os bolsos estufados de dinheiro proveniente das boas safras de algodão. Os fazendeiros e seus meeiros compunham a massa de compradores mais abastados do município. A loja vendia também guarda-sóis, sombrinhas e bengalas; máquinas de costura, bolsas e carteiras para homens e mulheres.

A CASA CONSERVA, de José Conserva, servia ao povoado da Prata e ti-nha um completo sortimento de miudezas, ferragens e estivas.

A LOJA PAULISTA, na Praça senador Epitácio Pessoa, vendia brins, tri-colines, mesclas, chitas, algodão, morganetes, telmolins, fantasias, voiles, sedas e crepes.

Já A PARAHYBANA, de Nestor Bezerra & Irmãos, em seus anúncios avi-sava aos fregueses que se achava apta a bem servir aos que se dignassem visitá-la, visto ter recebido um grande e variado sortimento por preços baixíssimos. A matriz situava-se na Praça Epitácio Pessoa, com filiais em Camalaú, Boi Velho e São Thomé.
 
 

A PHARMÁCIA SANTA THEREZINHA, sob a direção do farmacêutico Augusto Campos, diplomado em 1906, atendia urgências a qualquer hora da noite. Vendia xarope de benzo creosotado, licor de japecaroba, vinho jurubeba composto, elixir das parturientes e água inglesa. Todos os produtos eram formulados e preparados pelo próprio farmacêutico.

MARCOLINO MAYER DE FREITAS, pai do Ministro Luiz Mayer, estabelecimento de tecidos e miudezas, anunciava seus produtos a preços cômodos e ao alcance de todos. 

A CASA OLÍMPIO comprava diretamente do Rio de Janeiro, por isso seus produtos tinham preços idênticos aos do Recife.  Em suas prateleiras, os clientes podiam encontrar perfumes, louças de fantasia e presentes em geral. Entre os produtos mais vendidos figuravam o sabonete DORLY e a brilhantina GLOSTORA.

Vinhos, zinebra, conhaques e outras bebidas finas nacionais podiam ser compradas na casa GERMANO CARVALHO.

Francisco Cândido de Mello Falcão, proprietário da Fazenda Monconha e pai do Ministro Djaci Falcão, possuía moderno mecanismo de descaroçar algodão, equipado com descarregador. Na fazenda Monconha, Francisco Cândido, mais conhecido por Chico Cândido, possuía engenho onde fabricava a famosa aguardente Almofadinha. Além de atividades rurais, era estabelecido na praça de Alagoa do Monteiro com o ARMAZÉM DE COMPRAS DE ALGODÃO E PELLES. No comércio de peles, Francisco Cândido representava a Yona e Cia., firma pertencente a seu cunhado, Delmiro Gouveia.

A CASA BRINDEIRO, pertencente a Francisco M. Brindeiro, além de te-cidos, miudezas e ferragens, possuía uma padaria bem montada onde fabricava com excepcional capricho as bolachas: Brindeiro, Nadir, Mimosa, Nabuco e o pão Jahu, o melhor da cidade. Francisco Brindeiro era pai do médico Djair Brindeiro, radicado no Recife, cidade da qual foi prefeito e personalidade muito destacada.

INÁCIO FEITOSA, agente autorizado da FORD MOTOR COMPANY em Alagoa do Monteiro, vendia automóveis importados, peças e acessórios. Comprava diretamente dos Estados Unidos, Rio, São Paulo e Recife. Mantinha também contrato de distribuição com a UNITED STATES RUBBER EXPORTS CO. LTD., de quem recebia os pneus da marca Royal Cord. Além do comércio de peças, Seu Inácio também distribuía em toda a região máquinas de costura da famosa marca Singer.
Pertencente à firma FREITAS & CIA, a CASA TUPY, estabelecida na rua Coronel Santa Cruz, nº 19, representava a TEXAS COMPANY - SOUTH AMERICAN LTD, além de comercializar louças e tintas.

Município de vasta extensão territorial, numeroso rebanho de bovinos e caprinos, Alagoa do Monteiro atraía empresas como a ROSSBACH BRASIL COMPANY, que mantinha na cidade movimentada agência de compra e exportação de peles.

Na área de prestação de serviços, Alagoa do Monteiro era servida por profissionais que deixaram seus nomes na história do município. O primeiro deles a merecer destaque é CHRISPINIANO NEVES, fotógrafo profissional, a quem se deve o acervo fotográfico mais rico do Cariri paraibano, hoje, um tesouro que enriquece o museu da cidade. O pai de Chrispiniano era o Capitão Antônio Zeferino, assassinado no dia 6 de maio de 1911, quando a cidade foi invadida pelo bacharel Augusto de Santa Cruz Oliveira, acompanhado de 200 cabras que soltaram os presos, prenderam a polícia e tomaram como reféns as principais autoridades da vila. Depois de matar o capitão Zeferino a golpes de peixeira, um dos bandidos sacou um punhal e furou os olhos do morto. Em seguida, o facínora de nome João Trezena, pôs-se a colocar doce na boca do morto, violando o cadáver com a mais ignóbil zombaria: “Que ladrão lorde, vai para o céu comendo doce!”  Órfão, Chrispiniano teve que madrugar pelos caminhos da responsabilidade e do trabalho para ajudar no sustento da família.
 
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ANTÔNIO NUNES DE FARIAS JUNIOR, filho de Antônio Nunes de Farias, proprietário da Fazenda Boa Vista dos Nunes, bacharel em Direito, colega de Câmara Cascudo, ambos formados pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1928, montou banca de Advocacia especializada em causas criminais, cíveis e comerciais em Alagoa do Monteiro onde, além das atividades jurídicas, dava aulas particulares de Latim.

Dr. EUCLIDES MESQUITA exercia também atividades de advocacia na Comarca.

DIOCLÉCIO PEREIRA LIMA, médico formado pela Universidade do Rio de Janeiro, estabelecido como clínico geral, já naquela época, anunciava a cura de varizes sem operação e sem dor.
Dr. JOÃO DUTRA era clínico e cirurgião.

JOSÉ A. JAPIASSU, sem nunca ter frequentado os bancos de uma faculdade, estabeleceu-se como dentista prático. Além de ser uma pessoa humana excepcional, gozava de ótima reputação na profissão que exercia com devotamento. Fazia bridges, pivots com base, blocos maciços a ouro e acolite, restaurações, coroas metálicas, fenestradas e mistas; obturações a amálgama, porcelana sintética e granito. Seu Cazuza, como era popularmente conhecido, era também agente local de La Hacienda Company de Nova York, revista que editava matérias sobre agricultura, pecuária e indústria rural.

A SÃO PAULO e a SUL AMÉRICA instalaram na cidade agências de seguro.

Na década de 40, a firma DARCÍLIO GOMES RAFAEL representava a ANGLO MEXICAN PETROLEUM CO. LTD. Distribuía no município gasolina e querosene. 

A DESCAROÇADORA HEVIAN, pertencente a Heronildes Viana, comprava e beneficiava algodão.

A BENEFICIADORA SÃO JOÃO, de propriedade de Severino Tenório Cavalcanti, e a USINA SANTA RITA, pertencente a Luiz Leite, ambas beneficiavam fibra de caroá, produto nativo do Cariri e do Moxotó.

A CASA BRASIL, de Brasiliano Monteiro de Souza, vendia gasolina e óleo.

ALCINDO BEZERRA DE MENEZES, formado em Farmácia, natural de Paudalho, casou-se com D. Maria das Dores, filha do Coronel Manoel Joaquim Rafael. Estabeleceu-se em Alagoa do Monteiro no ramo de farmácia. Pai do escritor José Rafael de Menezes, Antônio, Jorge e Humberto. Os quatro irmãos destacam-se pelo espírito de cidadania, conhecimento da região e honradez, heranças do pai. Além de comerciante, Dr. Alcindo foi prefeito. Probo como ninguém, somava a essa grande qualidade a mais alta competência no ramo da farmacologia. Sua farmácia tornou-se também lugar de falação de assuntos da vida diária, como agricultura e pecuária, além de ponto de encontro para discutir política:

Na farmácia do padrinho
Alcindo se reunia
O que de melhor havia
Na nossa sociedade
Para falar e fazer crítica
Aos desmandos da política,
Essa rocha monolítica.
Que apavorava a cidade!

Hoje, o comércio de Monteiro é grande, mas sem nenhum comerciante de estatura, como existia no passado. As atividades encontram-se pulverizadas em empresas de pequeno porte. Falta um produto como o algodão, que oxigenava a economia do município. O comércio se mantém aparentemente próspero graças aos programas de transferência de renda mantidos pelo governo federal. Trata-se, pois de um crescimento enganoso e de uma economia sem sustentabilidade alguma.

Sem os benefícios das universidades, os monteirenses de antigamente se distinguiram como bons políticos, excelentes homens de negócios, urbanistas, empreendedores e visionários que conseguiram enxergar a educação como um bem maior.

A riqueza daquela época pode ser vista na imponência dos casarões. A igreja-matriz, símbolo de fé, é um templo com porte de catedral. Pena que muitos casarões, possuidores de rara beleza arquitetônica, estão sendo descaracterizados ou demolidos porque a população urbana da atualidade é desprovida do bom-gosto e do olhar estético de seus antepassados.

PEDRO NUNES FILHO
*É advogado, escritor e sócio do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco – IAHGP
 

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