
Já houve gravações no Assentamento Santa Catarina, local em Zabé vive desde 2003. Também houve gravações na loca em que Zabé viveu por 25 anos, no Sítio Tungão, a 19 km de Monteiro. No sábado, 8, a equipe do Visceral Brasil registrou um encontro entre Zabé e músicos e poetas da região
“A proposta é registrar o ambiente, o lugar que “formou” Zabé, a paisagem e o universo inspiradores. Vamos filmar o céu, os trabalhadores rurais, o movimento que faz o tempo no sertão, os dias, as horas, os minutos que passam de uma forma muito única, com um ritmo próprio”, explica a diretora da série, Marcia Paraíso.
Zabé da Loca é tocadora de pífano, uma flauta rudimentar e tradicional do Nordeste brasileiro. Nasceu em 1924 e é natural da região de Buíque, agreste do Pernambuco. Durante toda a infância e juventude, a artista passou trabalhando no campo e fazendo música na cidade de Buíque. Casada, mudou-se para o interior da Paraíba, teve três filhos e, quando ficou viúva, viu sua casa, literalmente, ruir.
A única alternativa foi mudar-se com a família para uma gruta (uma loca, na linguagem da região), cuja entrada ela tapou com paredes de taipa e onde passou o seguinte quarto de século. Surgiam ali o apelido e as condições que talhariam a sua música. Do pife, Zabé da Loca extraiu o som do seu universo paralelo.
Descoberta pela mídia em 1995, a artista saiu da caverna. Assentada da Reforma Agrária, sua música – sem tempo, sem espaço – faz sentido tanto para os tradicionalistas quanto para os jovens. A pifanista serviu de inspiração em discos de artistas como o percussionista argentino Ramiro Mussoto e o grupo paraibano Cabruêra.
Em 2007, aos 83 anos, gravou seu terceiro álbum, intitulado Bom Todo. O título do álbum é a forma como Zabé da Loca se refere a algo ou a alguma coisa que considere maravilhosa.
Visceral Brasil é uma produção da Plural Filmes em parceria com a Joner Produções. Serão treze documentários sobre as raízes da música brasileira, sua diversidade e seus grandes mestres que, sem romper com suas origens, extrapolaram a visibilidade regional e tornaram-se referência para a MPB. A estreia da série está prevista para o primeiro semestre de 2014 na TV Brasil.
Durante todo o ano de 2013, a equipe de produção do Visceral Brasil vai percorrer diversas cidades da Bahia, Paraíba, Pará,Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rondônia com o desafio de registrar o universo musical dos treze personagens escolhidos: Bule Bule, Zabé da Loca, Mestre Humberto, Dona Onete, Mestre Vieira, Mestre Laurentino, Côco Raízes de Arcoverde, Dona Maria do Batuque, Pedro Ortaça, Giba Giba, Arlindo dos 8 baixos e o grupo Zambiapunga.
Com curadoria de Carla Joner e direção de Márcia Paraíso, cada episódio terá uma linguagem própria, coerente com o perfil de cada personagem. O episódio sobre Bule Bule também é codirigido por Carla Joner.
O primeiro episódio da série foi gravado na Bahia em abril. Intitulado O trovador, o cabra e os mundos, o documentário retrata o músico, escritor, compositor, poeta, cordelista, repentista, ator e cantador baiano Antônio Ribeiro da Conceição, o Bule Bule. O episódio tem cenas gravadas também em Lisboa – onde Bule Bule se apresentou durante as atividades do Ano do Brasil em Portugal e encontrou Dona Onete, cantora paraense que também será tema de um dos episódios da série. Bule Bule percorreu as ruas de Lisboa, versando e descobrindo a terra de origem da literatura de cordel e do repente.
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