Vim ver a seca de perto. Desde quinta que botei o pé na estrada, já percorri 600 quilômetros, outros 600 vou percorrer voltando por outras bandas. Até Campina Grande o mundo é uma coisa, de Campina em diante é outro. Até Campina, uma espécie de céu, de Campina pra cá o inferno encardido, seco, rachado, quente, poeirento, desalentador. Os açudes que não secaram, estão numa peínha de nada, quase sem sem água, quase sem vida. Os animais bebem a lama e lambem o chão catando o resto de grama para não morrerem.
Depois de Juazeirinho, entrando pra Taperoá, a primeira tristeza. Aquele açudão que enfeitava a paisagem minguou. Agora é só um risco de água no chão. O resto se foi com os raios de sol. O gado está magro, só couro e osso. Se não chegar ração, logo, logo vai enfeitar as estradas com suas carcaças.
Na saída de Taperoá rumo a Desterro, a segunda tristeza: o outro açude, o enorme, aquele que atravessava a estrada e se transformava em dois, também está se indo. No seu leito ainda tomado de capim, as vacas disputam espaço com os urubus, elas comendo mato, os urubus devorando carniça.
Vagando pelo asfalto quente, mulheres carregam crianças nos quartos, homens perambulam com carros de bois catando resto de pasto para o rebanho, o mato seco transforma a paisagem num lugar de morte, nem a palma resiste, murcha e morre sobre a terra.
Vi cruzes plantadas nas margens da estrada, sinalizando que ali morreu gente. Trata-se de um hábito antigo do sertanejo, marcar o lugar onde alguém morreu de tragédia. Elas aumentaram de quantidade, estão por toda parte, por todo canto, em todos os tamanhos.
Por todos os lugares onde passei, a imagem é uma só: o céu limpo, sem nuvens, o tempo quente, sem vento, o mato seco, sem vida, o gado magro, morrendo, o sertanejo ossudo, com fome, a criança faminta, sem esperança e a mãe desgarrada, impotente.
E a caravana de carros pipas subindo e descendo ladeiras, levando água com gosto de barro para o abastecimento das comunidades, é um espetáculo que, em vez trazer esperança, mostra apenas a realidade eterna do sertão, que é aquela de tratar o drama da estiagem com paliativos.
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