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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Açude que já abasteceu Patos secou completamente e virou cemitério de canoas

Padre Djacy numa canoa abandonada no leito do JatobáEm seus registros, 'Caminhos da Sede', padre Djacy Brasileiro conta o drama de famílias que sobreviviam da pesca no Jatobá, que hoje não tem água nem para molhar pequenas plantações
Seu Sebastião se ajoelha no leito do açude secoO açude Jatobá, que chegou a abastecer o município de Patos (no Sertão da paraibano, a 307 quilômetros de João Pessoa), secou completamente. Em seu leito estão espalhadas canoas que eram usadas por famílias que viviam da pesca. Com capacidade para 17 milhões e 516 mil metros cúbicos de água, o Jatobá tem hoje apenas 56 mil e 769 metros cúbicos, o que representa 0,3% do seu armazenamento total.

O município de Patos é abastecido de água do complexo Coremas/Mãe d'Água e pelo açude Capoeira, do distrito de Santa Terezinha, que tem capacidade de 53 milhões e 450 mil mestros cúbicos de água e está com apenas 15,3% do seu total, o que equivale a 8 milhões, 181 mil e 925 metros cúbicos. 

Outro açude de Patos é o Farinha, que tem capacidade para 25 milhões,738 mil e 500 metros cúbicos. Está atualmente com 31 mil e 325 metros cúbicos, o que representa 0,1% de sua capacidade. 

Em vários bairros da cidade de Patos há racionamento. A única esperança dos moradores é a chuva. O padre Djacy Brasileiro, pároco de Água Branca, que registra a situação dos municípios que sofrem com a estiagem, conversou com famílias que tiravam o sustento do açude de Jatobá. O padre faz divulgação nas redes sociais do seu trabalho, intitulado 'Caminhos da Sede'.

Um desses moradores é o senhor Verinaldo Lima. Ele levou o padre Djacy para ver de perto o leito do açude, um dos maiores da região polarizada por Patos. "Com a voz embargada e lágrimas nos olhos, seu Verinaldo me contou que o açude de Jatobá era cheio, bonito,viçoso e que abastecia a cidade de Patos.Hoje,para ele, só resta mesmo a lembrança", disse o religioso.

Caminhando a pé pelo leito do açude seco, o padre Djacy observa que o cenário é "de morte, desolação, dor e tristeza". De tão seco, as pessoas que moram próximo do açude cavaram cacimbas no local. No local onde tem a água ela está imprestável para o consumo humano. Dezenas de peixes são encontrados mortos. 

Seu Sandoval vai de bicleta para o meio do açude. Tenta pegar água na cacimba que, segundo ele, é para suas plantas.
Outro agricultor que sofre com a falta de água para suas plantações é o seu Sebastião. O padre Djacy  repara que seu Sebastião clama por água como se estivesse rezando e canta, quase chorando, a música 'Asa Branca', de Luiz Gonzaga, ajoelhado no terreno seco onde havia um açude.  O Jatobá, que já foi o principal açude no abastecimento da cidade de Patos, teve sua construção em 1952 no governo de José Américo e sangrou pela primeira vez no dia 25 de março de 1960. Está localizado às margens da PB-110, saída para Teixeira, próximo ao campus da UFCG. É o mais antigo reservatório de Patos e o mais popular. Vários bairros cresceram às suas margens, a exemplo Alto da Tubiba, Mutirão, Nova Conquista e o próprio bairro do Jatobá.
Local que media o volume da água do açude
Foto: Local que media o volume da água do açude
Padre Dajcy conversa com seu Sandoval
Foto: Padre Dajcy conversa com seu Sandoval
Créditos: Reprodução/Facebook/Djacy Brasileiro
Suas águas também irrigavam algumas culturas agrícolas que abastecem principalmente a população de Patos e da vizinha cidade São José do Bonfim.

Só no bairro do Jatobá, um dos maiores da cidade de Patos, a população é estimada em cerca de 12 mil habitantes, segundo o INPPE (Instituto Patoense de Pesquisa e Estatística). Dos 223 municípios da Paraíba, apenas 51, ou 31,84% chegaram a 2012 com uma população superior a residente na zona sul de Patos.

Patos, que população estimada pelo IBGE em 104 mil e 716 habitantes,  com potencial de consumo de mais de um R$ 1 bilhão em 2012, entrou no mapa das 20 cidades do interior do país com as maiores taxas de consumo. O município está incluído na área geográfica de abrangência do semiárido brasileiro, definida pelo Ministério da Integração Nacional em 2005.


Dezenas de peixes mortos no Jatobá
Foto: Dezenas de peixes mortos no Jatobá
Créditos: Reprodução/Facebook/Djacy Brasileiro

Seu Verinaldo Lima, na cacimba dentro do açude
Foto: Seu Verinaldo Lima, na cacimba dentro do açude
Créditos:
 Reprodução/Facebook/Djacy Brasileiro

Seu Sebastião se ajoelha no leito do açude seco
Foto: Seu Sebastião se ajoelha no leito do açude seco
Portal Correio.

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