A paisagem da Copacabana dos cartões postais, do samba no calcadão e da praia lotada de corpos expostos em trajes mínimos a caminho do mar ganhou elementos novos com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a chegada de milhares de peregrinos ávidos para ver e ouvir de perto o papa Francisco.
Talvez a mudança mais visível esteja à beira-mar, onde homens de sunga e mulheres de biquíni passaram a dividir espaço com pessoas sem pudores de entrar no mar com a mesma roupa com a qual chegaram na areia. Os moradores do bairro não escondem o espanto em ver jovens turistas entrando de calça jeans na água, mas a tradição democrática de Copacabana receber gente de todos os tipos parece falar mais alto.
'É curioso, mas por outro lado, é muito bom ver tantos jovens reunidos para um evento religioso, em clima de paz', declarou a aposentada Sueli Soares, que, no entanto, se queixou da quantidade de estruturas metálicas instaladas pela organização da JMJ e espalhadas pela orla do bairro e que dificultam suas caminhadas matinais diárias.
Além disso, as tradicionais esculturas de areia que representam a mulher brasileira na praia ficaram mais recatadas e passaram a 'usar' saias no lugar dos minúsculos biquínis em respeito à presença do papa. A ideia de deixar as esculturas mais comportadas foi do próprio autor, Ubiratan dos Santos, que trabalha há 20 anos nas areias de Copacabana esculpindo as formas da forma mulher 'perfeita', como ele mesmo afirma.
O que também mudou foi o repertório dos grupos de músicos que percorrem o calçadão tocando em quiosques para atrair a 'contribuição dos gringos'. A Agência Efe testemunhou alguns desses artistas de rua deixando os sambas tradicionais de lado para cantar músicas dos padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo e agradar quem veio à cidade para ver o papa.
'As melhores gorjetas sempre são dos turistas. Com a chegada dos peregrinos, tivemos que adaptar as músicas para garantir nossa clientela', contou sorridente o músico de rua Cléber Toledo.
A presença maciça de turistas também mudou a rotina dos donos de quiosque da orla de Copacabana. Antonio Valmir, do quiosque Coco Verde, posicionado bem em frente ao palco principal onde serão encenadas as duas últimas estações da Via Sacra produzida especialmente para a visita do papa, já comemora o previsível aumento das vendas.
'Nesta semana anterior já deu pra notar o aumento do movimento. Na semana que vem, acho que vai ter gente demais, e vamos precisar agilizar o serviço para atender bem todo mundo', disse Antonio, garantindo que não vai inflacionar os preços do quiosque que vende cocos a R$ 4 e caipirinhas a R$ 6.
Perto dali, já no Leme, bairro contíguo a Copacabana, está a comunidade do Chapéu Mangueira, cujos moradores receberão em suas casas alguns peregrinos da JMJ encaminhados pela paróquia Nossa Senhora do Rosário. Ali, estabelecimentos como o Bar do David, já presente em alguns guias turísticos internacionais e ganhando cada vez mais fama entre os cariocas, também pretendem faturar um pouco mais com a presença do pontífice em terras cariocas.
'Pretendo armar em todos os dias da Jornada o esquema de final de semana de verão do bar. Serão 14 pessoas trabalhando, no atendimento e na cozinha, para dar conta de 100 ou até 120 pessoas, que é nossa capacidade máxima', detalhou David Vieira, que não esconde a ansiedade, mesmo depois do baixo movimento da Copa das Confederações, realizada no mês passado e que ele qualificou como 'decepcionante'.
Porém, nem tudo serão flores com a esperada chegada de Francisco. Pelo menos essa é a opinião de Eduardo Pereira da Paz, dono da barraca Point do Pernambuco, que vende cerveja, refrigerantes e outras bebidas na faixa de areia próxima ao palco do papa e que, por conta da JMJ, não poderá trabalhar nos próximos dias.
'Não vamos ser impedidos só de trabalhar, mas também de circular, porque vão colocar grades para afastar as pessoas do palco. Dizem que esse será um evento para o povo, mas vai nos prejudicar demais. O papa nem deve saber que eu preciso sustentar dez bocas na minha casa', lamentou Eduardo.
Ainda alheia a toda essa movimentação está uma casa de shows eróticos onde, mesmo com a presença ao seu lado da imponente igreja Nossa Senhora de Copacabana com um cartaz gigante de boas-vindas ao papa Francisco, um funcionário continua convidando cariocas, turistas e até mesmo os peregrinos a conhecerem os prazeres mundanos da Princesinha do Mar. EFE
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