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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O “vício em sexo” é uma doença de verdade? Leia o artigo


O “vício em sexo” é uma doença de verdade? Leia o artigo
Nos últimos anos, “vício em sexo” foi a desculpa de muitos famosos flagrados pela imprensa de celebridades traindo seus parceiros. Mas será que o que psicólogos chamam de "transtorno hipersexual" é uma patologia real ou apenas uma desculpa esfarrapada para o mau comportamento?

O problema é real. Há a chance de o transtorno ser incluído na próxima revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), considerado a "bíblia" dos psicólogos e psiquiatras.

Agora, uma equipe de especialistas formulou critérios que podem ajudar terapeutas a identificar corretamente a doença, já de olho no tratamento.

Para testar os critérios, os pesquisadores fizeram entrevistas e conduziram testes psicológicos com 207 pacientes tratados em várias clínicas de saúde mental nos Estados Unidos. Todos os participantes buscavam ajuda para controlar seu comportamento sexual, por abuso de substância ou outras condições psiquiátricas como depressão ou ansiedade. 

Aplicando a teoria sobre os dados obtidos dos participantes, os pesquisadores disseram ter encontrado com precisão 93% das pessoas do grupo que tinha o transtorno hipersexual.

Causando problemas

De acordo com um dos pesquisadores, a questão fundamental é saber se o descontrole sexual está interferindo na vida da pessoa e se ela se sente impotente para mudar isso.

"O ponto é o comportamento sexual que está causando problemas, seja ele fora de controle, ou com risco de contágio de doenças", disse o co-autor das diretrizes Rory Reid, um professor assistente de psiquiatria da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. "Geralmente são as consequências [do comportamento hiperssexual] que trazem as pessoas através da porta."

Reid acrescentou que considera o termo "vício em sexo" um equívoco. "Eu não chamaria isso de vício em sexo, porque não temos informações para defini-lo realmente como uma compulsão", explicou.

Para atender aos critérios de classificação como transtorno hipersexual, o comportamento deve causar danos. "Se um paciente está se envolvendo em um determinado comportamento sexual que não machuca a si próprio ou aos outros, não é um problema", explicou.

Mas o que eles querem dizer com "causar danos"? Para um exemplo particularmente perturbador, Reid descreveu um paciente, piloto de cargas aéreas, que se envolve em asfixia autoerótica uma vez por mês – masturbando-se em altitude elevada a ponto de desmaiar.

Os resultados do estudo, publicados na edição de outubro do “Journal of Sexual Medicine”, definem um conjunto de critérios que mostram o que deve ser considerado como transtorno hipersexual.

Os critérios incluem:

Comportamento recorrente ao longo de um período de pelo menos seis meses.

Recorrentes e intensas fantasias sexuais, muitas vezes em resposta à ansiedade, depressão e estados de humor ou outros eventos estressantes.

Tentativas da pessoa de controlar ou reduzir o comportamento.

Comportamentos que envolvem risco para si ou para outras pessoas, causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento pessoal.

Algumas condições excluem o diagnóstico de transtorno hipersexual: o abuso de drogas (as fantasias sexuais ou comportamentos de risco costumam ocorrer sob influência), condições médicas subjacentes e a faixa etária (o diagnóstico geralmente não é feito para menores de 18 anos).

No entanto, segundo Reid, o estudo mostra que, na maioria das vezes, a doença tem suas raízes na adolescência ou início da idade adulta. Os comportamentos sexuais mais comumente associados com o problema são a masturbação e uso excessivo de pornografia, sexo consentido com um adulto e sexo virtual. Fatores de risco são sexo com prostitutas, traição em série ou ter uma média de 15 parceiros sexuais diferentes em um ano.

Tratamento

A boa notícia é que o transtorno hipersexual pode ser tratado. De acordo com Reid, o tratamento inclui terapia comportamental cognitiva ou terapia experimental para ajudar as pessoas a processar suas emoções e desenvolver habilidades de enfrentamento, meditação para ajudar os pacientes a aumentar a sua tolerância aos desejos e grupos de recuperação.

Ainda assim, alguns se questionam se rotular o comportamento sexual como uma patologia é simplesmente transformar o comportamento adulto normal em uma doença. Mas James Maddux, professor emérito de psicologia da Universidade George Mason em Fairfax, Virgínia, diz que, nesse caso, não é o que está acontecendo.

"Estou sempre cético em relação a estes chamados “transtornos” novos, mas neste caso acho que se justifica", disse ele. O ponto fundamental, segundo ele, é que "a pesquisa é baseada em pessoas que realmente procuraram ajuda e são perturbadas pela condição."

Reid disse que emplacar os novos critérios no próximo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5, iria alinhar os diagnósticos destes problemas sexuais. "Se esse transtorno for incluído no DSM-5, não vai estar nas primeiras páginas, mas como um item apêndice – o que significa que mais pesquisa é necessária", disse ele.

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